domingo, 14 de agosto de 2011

Pai!


 
Pai exerce a função paterna exatamente no momento que coloca limites e indica parâmetros. Pode parecer duro e dizer "nâo" supostamente sem necessidade, mas isto é tarefa paterna. No instante que tudo acontece pode representar exagero, falta de sensibilidade, até estupidez. Mas é assim que o pai planta os alicerces do caráter dos filhos, desde que tenha consciência do que e porque está dizendo o "não". Esta forma de relação , ainda quando os filhos são crianças, parece exagero. O colo materno é bem mais acolhedor. A mãe alisa os cabelos do filho e tudo perdoa, tudo entende e desculpa. Muito do que não deveria ser desculpado, o é pela mãe. Infelizmente, a compreensão materna soa só como amor e o limite paterno só como desamor.
Mas o tempo passa, os filhos crescem , tornam-se pais e mães, e então percebem que intolerância, frustração e privação pode rimar com amor, adultez, capacidade de discernir, possibilidade de enfrentar frustrações, crises.
E é isso tudo que transforma um adolescente num adulto. Muitos passam pela vida na ilusão e na busca imaginária da pseudo felicidade, que pode aprisionar o adulto num comportamento infantil , imaturo. Quantas atrocidades e barbáries são cometidas em nome da busca do prazer sem limites, que avassala e joga para o alto tudo que um dia um pai tentou ensinar ao seu filho. Assim, alguns adultos levam suas vidas, como eternos adolescentes mimados, que passam por cima de pessoas e valores para realizar o seu gozo pessoal.
Outros filhos olham de frente a dor, o vazio, as infelicidades que o viver traz. Estes são capazes de enfrentar as frustrações e fazer dos momentos de crise, plataformas de lançamento ao crescimento pessoal e ao incremento da capacidade de aceitar o Outro exatamente como ele é, não como gostaríamos que fosse para nossa satisfação.
Parece que o pai , com seus atos, atitudes, testemunho de vida, ajuda aos filhos a serem adultos ou a permanecerem numa condição infantil, sempre na busca de uma miragem de prazer e da completude mítica, que pode levar à destruição.
Pai, obrigada por ter me ensinado a ser forte na dor e na ausência, por ter me apontado outros adultos, mais experientes que eu, que puderam te representar, te presentificar na tua ausência.
Tu me ensinaste a olhar para o lado e lá encontrar pessoas , que me lembram em muitos gestos, a materialidade de tua presença, tua forma de ser no mundo. Tu me apresentaste o mundo como ele é, duro.
Na tua existência não tive clareza para te dizer todas estas coisas. Tua ausência me trouxe mais possibilidade de analisar a vida, e concluir que por mais dolorida que seja em certos momentos, tem de continuar a ser vivida.
Se te decepcionei muitas vezes, também te amei e amo de uma forma que  talvez não tenha conseguido  te comunicar.
Hoje,  homenageio e reverencio tua existência, e reconheço com orgulho, que somos  mais dois elos da novela familiar que todos nós escrevemos com nossas vidas, e que continuará....