segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

A vida e o sonho

Será o sonho um episódio da insônia? Sonhar pode acontecer num estágio entre estar dormindo e acordado que nos faz duvidar daquilo que pelos sentidos experenciamos.
A insônia , como recusa a dormir, em alguns momentos leva a exaustão, e expõe tatuagens invisíveis que carregamos escondidas de nós mesmos, em gavetas trancafidasdas com  chaves do inconsciente. Elas, então se abrem quando sonhamos. Ai inauguramos outras possibilidades de  criação, novas soluções para questões cristalizadas em nosso cotidiano. Os horizontes se ampliam, e o pensamento neurótico pode se descentrar de seus conflitos e sintomas originais. O sonho, como acontecimento que se instala pelo sono após a insônia, pode nos levar a possibilidades de encontrar outras trilhas a serem percorridas.

Promessas!

Será que prometemos para o Outro ou para nós mesmos? O que está implicado no ato de prometer?
Um dia ele prometeu amor eterno, mas depois percebeu que eterno é nada. A vida é volátil. O amor quando se apresenta a quem ama como eterno, ainda está vestido de paixão. Mas paixão é efêmera. Impraticável permanecer em estado apaixonado por tempo extenso. Todos os sentidos se dirigem ao apaixonamento.
O apaixonado se apaga no encanto que disperta seu objeto de desejo.
E quando um ser se apaga para dar luz ao outro se desfazem as promessas, se anula o desejo próprio, e o que passa a valer é satisfazer o desejo do outro. Nesta fatia de tempo o apaixonado abandona a condição de sujeito e passa a ser  objeto, mais um daqueles que podem satisfazer o alvo de sua paixão. Há uma objetalização da existência na paixão.
Para prometer temos de estar apaixonados, ou em estado muito próximo da paixão, nem que seja por nós mesmos, pelos nossos corpos, pela nossa saúde, pelos nossos amores, pela alma, por valores e ideais... enfim por aquilo que fisga o desejo e movimenta nossa libido. Talvez por isso as promessas de fim de ano sejam tão breves quanto a luminosidade e o colorido dos fogos de artifício no céu da virada do ano. 

sábado, 15 de janeiro de 2011

A QUÍMICA

 Entre  meu corpo e o seu existe uma atração, algo que chama, um perfume que cola, uma química que explode em sensações de volúpia. Mas é  só isso?  E isso é  só ? Claro que não.... é muito, mas não sustenta uma relação, desperta desejos.. incendeia os sentidos, mas não expressa convivência. Palavra interessante esta: CONVIVER . Viver acompanhada, viver com e para o outro.  Bem, mas isso não diz de química, diz de opção de convivência.
A química combina os elementos na medida exata, e a partir de dois, que são únicos e não  podem se repetir , faz nascer um terceiro, novo, que não pode ser reproduzido, e que só tem existência em determinadas circunstâncias físicas.... Isso talvez possamos chamar de paixão...ou tesão quem sabe? Talvez tudo se explique pela lei da física que pauta a atração dos corpos.
Mas o que eu gostaria mesmo é de unir, num só instante do universo, como que numa fatia capturado do tempo que se esvai, a QUÍMICA da paixão, em determinadas circunstâncias da FÍSICA ,na possibilidade de CONVIVER em parceria.    

Relacionamentos

 RE-lacionar, seria fazer novamente laços? Como andam os laços que vinculam as pessoas em tempos de evitação da dor?
 Entrar numa relação de parceria ou cumplicidade, implica se implicar com o outro , com suas questões, suas individualidades e aceitar ou rejeitar as concessões que ele fizer de invasão de seu corpo e alma.
 Nossos tempos são feitos de demonstrações de felicidade, de sucesso e de bem-estar constante.
 Tempos de mascarados que se  exibem exitosos . Há que entrar em cena a cada novo despertar e interpretar o papel de sujeito perfeito e realizado na vida.
 Essas são algumas das exigências que ecoam dos códigos sociais de nossa época.
 Sendo assim, será que vale a pena entrar numa relação, amar e se deixar amar por alguém?
 O amor, ao mesmo tempo que traz promessas de momentos de prazer e plenitude , também traz a possibilidade da dor pelo luto da perda. Amar significa acompanhar-se e abandonar-se a ausência do amor que um dia parte. E parte porque não é viável ficar para sempre.
Não existe espaço para o "para sempre" em nossos dias. O tempo escorrega, as relações escorrem , os desejos são líquidos e se vão assim como chegam.
A transitoriedade que nos acompanha desde o nascimento e desemboca na morte , parece estampada nos modelos de relação que se estabelecem na atualidade. Tudo tem de ser superficial, porque na superfície e mais difícil deixar marcas, e quando elas ficam é mais fácil apagá-las.
Marcas causam dor, abandono, solidão, sofrimento, desamparo. Mas estes sentimentos não combinam com o espetáculo que temos que protagonizar no dia-a-dia.
Então como ficam os RE-lacionamentos, os enlaces em nosso tempo?
Muitas vezes, não houveram  possibilidade desses laços se estabelecerem na infância, então como RElançá-los na adultez?
Desde estas considerações talvez se possa pensar  no porquê os relacionamentos duram tão pouco, se mantém na superficialidade ou até inexistem na concretude da realidade. Relacionar-se na virtualidade pode ser mais fácil. Não há  invasão de corpo e alma que o real nos impõe.
 Mas que não nos esqueçamos da dor. Ela deve ser evitada pelos valores sociais vigentes.
 Só que dela, da dor ,não se pode escapar. Amar, relacionar-se, dói porque ai já está implicada a perda, o luto pelo amor que assim como chega se vai.
Não amar, fugir, evitar ir fundo e se envolver nas relações, também dói, porque traz consigo a solidão que pode ser até acompanhada pela presença do outro.
Parece que qualquer que seja a escolha, ela se acompanha pela dor.
Dor pela incompletude, dor pela falta, dor pelo buraco vazio de sentimentos, dor pela brevidade da existência, e a dor maior,  que é a dor de poder olhar sua própria dor e com ela se relacionar.
 Parece que antes de qualquer outro relacionamento, temos que ficar íntimos com a relação que estabelecemos com nossa própria dor, inerente à condição humana do sujeito que vive na sociedade , em relação com o Outro que nos acompanha sempre e está dentro de cada de nós.
Só assim poderemos combinar relacionamento com capacidade de suportar a dor. Esse talvez seja um estágio de auto conhecimento que poucos atingem, porque para chegar até ele dói.
Já que a dor é inevitável, resta escolher a forma que cada um vai encontrar para conviver com ela. Crescendo?Relacionando na superficialidade?Ausentando-se na relação?  Olhando para a dor interna que a existência desperta? Bem, todas essas formas de enfrentamento da dor trazem desamparo, solidão, vazio e sofrimento.
 Será que se tem espaço para a RElaçãoe na atualidade? Será que podemos  RElançar e projetar relacionamentos neste tempo em  em que vivemos? A resposta talvez esteja na fluidez do tempo.