sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Palavras Cheias

Costumo dizer que há pessoas que falam e não dizem quase nada. Estas , parece que  usam palavras vazias. Já outras pessoas, que tem uma fala potente, que faz marca naquele que as ouve, se usam de palavras cheias para enunciar sua fala. Dizer não coincide com falar. Um papagaio fala, mas não diz nada, sua fala é vazia.
As palavras, como reprodução de um som, isolado de um significante mestre que as contextualiza na cadeia significante de cada sujeito, são vazias.
O mesmo som, representativo da palavra, mas com efeito de linguagem que comunica até aquilo que  ousa tentar guardar-se num esconderijo por detrás do significado do dicionário, é constitutivo do sujeito e suporte  da palavra cheia.
A palavra cheia, vai mais além da própria palavra. Representa aquilo que se esconde na sombra do verbo e, que em cada circunstância, revela algo que tem potência de desvendar  o suposto enigma  da subjetividade dos sujeitos.
Por sobre a máscara de cada palavra vazia se ocultam milhares de palavras cheias, que dão corpo à linguagem de  quem fala.
Os vocábulos,  encadeados em frases, transmitem algo para o outro que escuta. Assim,algumas vezes,a  fala pode  causar surpresa e trazer algum traço de novidade, até para o próprio falante. Na escuta, do lugar de ouvinte aberto para o Outro , as palavras podem encerrar tantos quantos significantes se fizerem necessários para dizer de um sujeito. Elas desvelam as formações do inconsciente que expressam desejos desconhecidos, tanto pelo dito quanto pelo não dito. O inconsciente é um depósito de palavras cheias de sentido, basta fazê-las dispir a máscara do recalcado e saltar para a consciência!     

domingo, 25 de setembro de 2011

Cenário da Tarde

Uma flor amassada por sobre a mesa da sala de estar. O perfume,  misturado com o cheiro da pele da mão que esmagou a flor, preenchia o ar. Olhos avermelhados, raiados de sangue. Sinais de choro... Já era primavera, e a alegria da estação ainda não habitava a casa. Tudo em desalinho, um corpo entorpecido caia de um sofá. Sentimentos esmigalhados espalhavam-se no tapete. Solidão, abandono, gosto de amargura. Este foi o cenário que se apresentou na chegada em sua casa, naquela tarde azulada. Motivo de tristeza? Talvez parecesse, mas serviu para uma gargalhada metálica que lotou o ambiente de som.      

terça-feira, 6 de setembro de 2011

Poesia Grotesca


                                             A Woman in a Bird Mask, 1967 by Diane Arbus

"A photography, is a secret about a secret.The more it tells you, the less you know." Diane Arbus


Olhando alguns retratos  da fotógrafa americana Diane Arbus, como o acima visualizado, me deparei com o estranho familiar Aquelas imagens que num primeiro instante  repelem, mas logo depois capturam o olhar. É o lado da vida que não costuma ser mostrado, nem cultuado: bizarrices, esquisitices, feiúras, estranhezas. Todas as cenas da crueza da vida que podem até causar repugnância, e exatamente por isso, são familiares a cada espectador, e não vendem revistas. O familiar que causa estranheza, que repele e atrai, porque um dia já fez marca, causou arranhões na imagem de perfeição que o social cobra de cada um de nós.
Esta estranheza retratada nas fotografias de Diane Arbus lembram um artigo que Freud escreveu em 1919 "Das Umheimliche", que traduzido fica "O Estranho". Este artigo do pai da Psicanálise, também apresenta um tom inquietante e quase sinistro.Já a origem da palavra em alemão, traz uma dualidade que transita entre o "estranho" e o "familiar". Tudo que se apresenta como estranho, em determinado tempo mítico já foi extremamente familiar. O desconforto frente ao estranho ocorre porque , sem querer, ele se liga  ao familiar  que ficou velado, esquecido, recalcado no inconsciente.
Talvez ai se encontre o magnetismo, a beleza crua dos retratos de Diane  Arbus, que além de desconsertarem , inquietarem o espectador, também atraem porque fazem laço com o desejo inconsciente . Suas fotos , convocam um olhar que vai para mais além de um simples ver.Elas se constituem numa das mais genuínas formas de "Poesia Grotesca" dos tempos modernos.