domingo, 26 de junho de 2011

Amigos

Gostaria tanto de estar mais perto dos amigos, ser mais companheira, celebrar mais a amizade , passar ao  seu lado  momentos de nada fazer, ócio afetuoso, instantes de magia que se fazem na companhia de pessoas queridas.
Compartilhar amizades é quase como cultivar amores, aliás amigos são amores destituídos do sexual, e mesmo assim, algumas vezes rola algo que parece um clima. Amigos são a calmaria e a estabilidade gostosa  que as paixões negam, porque a intensidade apaixonada passa longe da calma e navega na angústia de formar a completude que não existe. Estar apaixonada é um estado de excessão, mas estar em situação de fraternidade amistosa é algo sempre ao alcance das mãos, só depende da disponibilidade. Tenho a interna, mas me falta a externa, que demanda tempo.
Amigos são tolerantes, compreensivos, dizem o que queremos ouvir , ou simplesmente calam. Durante  5 décadas cultivei amigos que fazem as vezes de família, apoiam nas dificuldades, oferecem a mão e o ombro na hora da dor. Meus amigos são as pessoas que conquistei pela minha maneira de ser ao longo da vida, também fui conquistada por alguns. Eles são a certeza que se explicita na disponibilidade. Mas parece que não concedo a eles o tempo e o espaço que ocupam no coração , no espaço real de meu cotidiano. Preciso cuidar mais das amizades. Cada amigo é uma preciosidade a ser cuidada e guardada em lugar especial. Tenho de abrir mais espaço para meus amigos em minha vida!

sexta-feira, 24 de junho de 2011

Separação!

Hoje fiquei sabendo que uma pessoa de minha família separou da mulher. Um fato que parece comum no cotidiano de nosso tempo. Mas sempre é difícil qualquer separação, quanto mais as amorosas. Separar diz de quando o desejo se transforma em obrigação, ai se coloca o momento de repensar a relação. Ir embora com o coração partido ou ficar sentindo que um dia já foi tudo mais intenso e mais prazeroso? Esta parece ser a grande questão de quem está por separar-se. No dia a dia do consultório, ouço muito as pessoas se fazerem esta indagação, mesmo que muitas das vezes não consigam ouvir sua resposta. Mas eu ouço e fico ali, de testemunha, esperando que a compulsão a repetição opere e a questão surja novamente. Quem sabe da outra vez seja ouvida a dúvida por quem a enuncia? É sempre uma surpresa para mim, quando o paciente consegue ouvir aquilo que enuncia e se põe a pensar na situação dolorosa que veio para o setting pelas manifestações do inconsciente, sobre as quais não se tem domínio. Elas provocam rachaduras na fortaleza do "Eu consciente" e teimam em aparecer justo no momento em que o paciente mais quer delas se distanciar. Nesta situação, a tarefa do analista é permitir que o inconsciente opere, se manifeste, e torcer para que o paciente possa escutá-lo, mesmo com angústia e dor. Talvez , o mais difícil seja se retirar da cena e deixar que o próprio paciente dê sinais de que seu Eu já pode se enfrentar com a verdade que não pode mais calar. Há que ter condições de sustentar o paciente em situação de pergunta, sem  a resposta no momento imediato em que a verdade, o saber inconsciente se enuncia. Quando este saber diz de uma separação tudo é mais complicado, demorado, delicado, sensível. Separar-se diz de poder estar distante primeiro da mãe, depois de afetos familiares... para um dia poder separar-se do par de uma relação amorosa, que une a dupla na busca da completude narcísica, que sempre é inatingível. Separar-se é poder suportar a própria companhia com prazer.

sexta-feira, 17 de junho de 2011

Frio

Hoje me coloco a pensar sobre a palavra Frio. Para mim é uma palavra ambígua, encerra um certo fascínio porque lembra o inverno, folhas de plátano amarelas caídas ao chão, um vento frio cortando a face, leitura para acompanhar  a alma e um cálice de vinho para aquecer o corpo. Frio, neste sentido, é prazeroso e traz consigo a lembrança de algo que me marcou desde sempre, o aniversário de meu pai que se acompanhava pelas festas juninas.
Mas a palavra frio também remete à sensação desagradável, lembra gelo, falta de afeto, desamparo, aqueles que vivem na rua e são cortados em seus corpos pelas rajadas de vento gelado, morte que se presentifica na falta de meu pai e de algumas outras pessoas queridas  que já se foram. Esta é a face triste e cortante para mim da palavra frio.
Se tivesse que representar a palavra frio por uma cor, escolheria azul. Uma cor que chega doer de tão bonita, mas com certeza, uma cor fria na escala dos tons. Azul são olhos que me fascinam, o céu numa tarde de inverno ensolarada,  as flores que depositei no túmulo de meu pai para homenageá-lo. Azul é beleza e frieza, em alguns momentos sentimentos  que se unem, em outros brotam separados.
Um frio azulado pode ser o paradoxo da beleza fria e do frio belo.Talvez uma bela metáfora para representar a vida.    

segunda-feira, 13 de junho de 2011

Loucos ou diferentes?

É difícil precisar a linha que separa a loucura da normalidade. Cada um se expressa em acordo com sua constituição mítica e sua subjetividade, formada no contato com o Outro que cuida quando ainda somos pedaços desintegrados de sensações num corpo frágil de bebê.
Talvez algo do genético ajude nesta constituição, mas parece que o que determina o rótulo de maluco ou desajustado é o lugar que os Outros que nos recebem quando chegamos ao mundo nos concedem em seu desejo. Complicado tudo isso, porque este lugar que nos é designado desde nossa concepção  está inscrito nas formações inconscientes, e portanto, é  desconhecido daqueles que nos geraram. Sabe-se lá que motivações ou falta delas tiveram quando resolveram que devíamos nascer. Somos o resultado do desejo do Outro que nos traz à vida. Se a estranheza já está presente na constituição de nossos pais, como mesmo vamos estar em acordo com os princípios da normalidade? Mas ai neste ponto se coloca uma questão interessante: o que fazemos com as determinações, os lugares, que nos são transmitidos pelo não dito? Muitas vezes, desta resposta depende a forma como nos vemos inseridos ou excluídos do mundo que se encontra a nossa volta.  

sábado, 11 de junho de 2011

Os jovens e o Divã

Se existe um pessoal interessado em Psicanálise atualmente, é o grupo formado pelos jovens. Na Viena de Freud, as pessoas procuravam o Psicanalista porque os desejos sexuais eram reprimidos e este fato causava as neuroses. Hoje a maioria das pessoas mais novas, entre os 18 e os 30, ainda não sabe sobre seu desejo e por isso procura análise. Isto talvez se passe  porque os jovens de classe média são criados em condições que buscam a realização rápida do prazer máximo, momentâneo e sem quase nenhuma obrigação,  sem implicação em seus atos, em especial nos atos sexuais. O sexo está banalizado entre os jovens. A questão é que esta forma de lidar com o desejo ou com a falta dele, produz situações de dificuldades para os jovens, que levam  muitos deles ao divã. Alguns jovens encontram dificuldades para iniciar e dar sequência em sua vida sexual.  Este fato parece paradoxal, porque hoje em dia, o sexo é uma mercadoria exposta e espetacularizada pelo meio social.  Porém, uma vida sexual que implique comprometimento com o Outro não está em questão para os jovens que carecem conhecer seu desejo. Para eles, que buscam o divã, o que conta é o prazer ocasional , descomprometido, em  alta velocidade. A ideia é aproveitar ao máximo, que acaba por se configurar no mínimo, pois não proporciona envolvimento e pode despertar nos jovens um grande vazio e uma náusea existencial, que  se disfarça numa máscara de alegria e desemboca no desamparo e no  "não saber" sobre questões do  próprio desejo. É este desconhecimento e a consequente busca pelo desejo  que leva muitos jovens a deitar no divã de um Psicanalista. Muitos deles não reprimidos sexualmente como na Viena de Freud , mas coisificados pelo sexo e coisificando aqueles que lhe fazem companhia nesta louca aventura de travessia da adolescência.   

sábado, 4 de junho de 2011

O limite!

Difícil reconhecer limites,estabelecer bordas, fazer recortes que enquadrem a vida dentro do possível e não do desejável. Desejo sem contornos pode levar ao abismo. Mas a quem compete estabelecer o permitido e o proibido? Depende da situação, da relação, do momento de vida. Pais delimitam bordas ao desejo dos seus filhos. Bordas não são linhas fixas, são contornos variáveis, móveis. Vão se modificando em acordo com a situação. E como é conviver com ausência de bordas, sem limites, onde se pode tudo e o Outro não faz questão à realização dos desejos? É uma experiência assustadora, que traz angústia porque expõe a quem não se impõe limites ao desamparo, ao abandono e ao desamor. Só damos um contorno, limite a quem amamos muito! Por isso tudo, pais que lêem  este post, não tenham reservas para estabelecer os limites que dão segurança a seus filhos. Eles necessitam deste ato de amor para amadurecer e se transformarem em adultos seguros de suas qualidades e defeitos.