sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Manhã tímida

Mas por que mesmo a manhã se apresenta tímida? Talvez porque o sol esteja indeciso. Seus raios não furam a barreira das nuvens para iluminar a terra. Por vezes aparece, e em outras desaparece. O tom do céu é de um azul acinzentado que dá o tom à timidez da manhã.
O sol, as nuvens, o céu, tudo isso compondo o cenário matinal, toca marcas escondidas de mim mesma. Eu também me apresento tímida diante da vida e não me permito brilhar como poderia. Será indecisão? Falta de força para furar as barreiras que a vida constrói? Ou apenas uma inibição passageira que teima em não passar?

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Lua cheia

A lua é cheia. Brilha e se oculta por entre as nuvens. Mantos  de nebulosidade, aos poucos, caem e desnudam estrelas, astros... Aqui na terra , por detrás de uma janela embaçada pela umidade da noite, um rosto sombrio se faz acompanhar pela magia da lua cheia. O ambiente é de solidão. Ouve-se o lamento de um blues que percorre o interior da casa. Um som metálico ecoa, rasga o coração. O peito se abre e sangra. O vermelho escuro do sangue escorre e tinge o tapete com desamparo. Estranho, sinto-me acompanhada pelo silêncio da noite que preenche o vazio de meu ser. Talvez só agora, tenha entendido que a companhia que me acalma e me traz segurança, está comigo. Sou minha melhor parceira, mesmo que não saiba tudo que se esconde de mim mesma por detrás do brilho da lua, e dos acordes da música que geme ao meu redor. Sem bem perceber, vou ensaiando passos que me fazem bailar a dança da lua cheia. Cai mais um manto, outra máscara se desfaz e eu fico mais exposta às marcas que trago no corpo e que tento esconder. Mas elas existem, me constituem, tatuam minha pele. Tudo é apenas mais um efeito da passagem do tempo, que se materializa na mudança das fases da lua. Outra vez a lua é cheia, e mesmo que não brilhe com a intensidade característica  deste ciclo, ela parece também se entristecer com  minha solidão, me faz companhia e me traz a energia vital necessária ao estar no mundo, onde as sensações são plenas mesmo que vazias e melancólicas . Entoo um hino à energia que emana da lua cheia! 

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Dia da criança ou do Infantil?

Hoje, 12 de Outubro, acordo com saudades de sabores e toques particulares da infância. Vou para a cozinha e preparo um purê de batatas, arroz bem soltinho, bolinho de arroz frito, feijão caldoso, salada de tomates com azeite de oliva. Sublime os sabores. Cheiros invadem a casa, temperos  misturam-se com os aromas das flores de primavera: madressilva, orquídea, amor perfeito e violetas. O tempo mítico do infantil retorna. Lá de dentro, vem o marido e diz que para completar, a sobremesa, tem que ser docinho de leite condensado com amendoim. Panelas, colheres, texturas, outros cheiros, formas, tudo se combina nos docinhos de amendoim. Comemoração completa para o dia da criança! Mas para que crianças, se formamos um casal sem filhos? Para as crianças que um dia fomos, que carregamos junto e que não nos abandonaram. Só que hoje não precisamos mais da mãe para preparar as guloseimas infantis. Podemos nos responsabilizar pelos desejos de criança que habitam nosso imaginário.
Mas qual será o efeito disso no psiquismo? Um re encontro com a porção infantil, que costuma ficar guardada porque a adultez é muito espaçosa.
Se todo dia pudesse me encontrar um pouco mais com meu infantil, me deixar levar mais pela magia dos castelos dos contos de fadas, seria mais conectada com aquilo que escondo e preservo de mim mesma, mas que é a essência de minha condição humana, o infantil que me acompanha.
O infantil não nos abandona, oculta-se sob a suposta responsabilidade adulta. Faz de nós seres mais frios, mais racionais e menos conectados com a imprevisibilidade e com a traço infantil que nos constitui.
Que a porção infantil possa driblar a seriedade adulta, e que possamos enfrentar as situações sérias da vida  como se fossem apenas mais um jogo da infância!