quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

Olhar Oblíquo

 Tenho pensado bastante no que desperta o fazer analítico na essência de meu ser. No mínimo cinco horas por dia, ouvindo a tessitura , ou tentativas de tecer narrativas que deem conta das dores dos analisandos. Para escutar e me deixar levar pelas narrativas, há que ter um olhar oblíquo, descomprometido com verdades factuais e desprovido de juízo de valores. Estes são os paradigmas, ao menos para que eu possa me dedicar com ética ao fazer artesanal da clínica analítica.
  Fazer diário árduo e prazeroso, que  engrandece, às vezes  rebaixa,  mas  deixa aqueles que o praticam mais próximos da incompletude da humanidade...
  Ouvir histórias, saber que pouco importa se elas são reais ou não,  perceber que cada história é escrita à fogo na alma do contador. O ato de contar sobre si  constitui e legitima a vida de quem se narra.
   Já o momento de escutar me faz pensar que nossas vidas são as histórias que podemos narrar sobre nossa experiência humana junto àqueles que nos cercam.
  E a minha história, a minha narrativa inventada, tecida em meu percurso de análise? Ela se entrelaça com outras histórias, é o resultado dos vínculos que atei e desatei até aqui.
   A capacidade de viver criando , diariamente , meu estar no mundo é o resultado de poder narrar minha trajetória e mudá-la sempre. Este é o efeito de meu fazer analítico em meu ser, produto de um olhar oblíquo!  

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