"O anel que tu me deste era vidro e se quebrou, o amor que tu me tinhas era pouco e se acabou". Cantiga de roda infantil que habita a memória quando lembro do furto das jóias. As lembranças de infância traem, sem termos a real proporção das coisas na adultez.
Aneis de vidro na infância guardam a marca do comprometimento amoroso onde o afeto predominava.
Lembro dos aneis de vidro barato que vinham com balas e que os meninos davam a sua preferida.
Você me deu um desses na infância , "anel de bala", e hoje ainda guardo a imagem dele na memória. Ali, com o anel de vidro tudo começou. Outros aneis vieram , alguns se perderam, outros foram roubados, mas a cada perda ou roubo se abria no porta jóias o espaço para a entrada de um outro anel.
Na nossa história , anel significa compromisso afetivo. Na cantiga o anel era de vidro e se quebrou, o amor era pouco e se acabou.
Tudo que acaba abre espaço para um novo recomeço. Pode-se recomeçar mudando o objeto de amor, ou simplesmente girando o olhar e conhecendo uma nova face do objeto amado. O inusitado, o novo , tudo isso desperta paixão. Amar de novo o velho, que se renova pela flexibilidade do olhar e da escuta de um amor antigo traz um novo anel, outro símbolo, mais uma vez a paixão explode.
Numa noite qualquer, o ladrão entrou e levou os aneis que me deste.O amor que me tinhas não era pouco e não se acabou, se renovou. Mais uma renovação, outro recomeço, novos planos, tudo de outra forma. Foram-se os aneis, mas cada um deles ficou registrado na memória afetiva, e o sentimento que eles simbolizavam, até pela perda, se renovou mais uma vez. A materialidade dos aneis cede lugar à representação do afeto apenas pelas marcas no coração. Tenho seu nome tatuado a fogo na alma!
uma cantiga infantil, brincar de roda, girar em torno de um centro e manter o foco. O girar que tonteia a razão e faz surgir o sentimento. A perda dos aneis que acusa a falta e o desamparo que encontra abrigo na mão do companheiro da roda da infãncia, naquele que teve o seu nome tatuado na tua alma e te traz o amparo. Parabéns pelo texto.
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