sábado, 15 de janeiro de 2011

Relacionamentos

 RE-lacionar, seria fazer novamente laços? Como andam os laços que vinculam as pessoas em tempos de evitação da dor?
 Entrar numa relação de parceria ou cumplicidade, implica se implicar com o outro , com suas questões, suas individualidades e aceitar ou rejeitar as concessões que ele fizer de invasão de seu corpo e alma.
 Nossos tempos são feitos de demonstrações de felicidade, de sucesso e de bem-estar constante.
 Tempos de mascarados que se  exibem exitosos . Há que entrar em cena a cada novo despertar e interpretar o papel de sujeito perfeito e realizado na vida.
 Essas são algumas das exigências que ecoam dos códigos sociais de nossa época.
 Sendo assim, será que vale a pena entrar numa relação, amar e se deixar amar por alguém?
 O amor, ao mesmo tempo que traz promessas de momentos de prazer e plenitude , também traz a possibilidade da dor pelo luto da perda. Amar significa acompanhar-se e abandonar-se a ausência do amor que um dia parte. E parte porque não é viável ficar para sempre.
Não existe espaço para o "para sempre" em nossos dias. O tempo escorrega, as relações escorrem , os desejos são líquidos e se vão assim como chegam.
A transitoriedade que nos acompanha desde o nascimento e desemboca na morte , parece estampada nos modelos de relação que se estabelecem na atualidade. Tudo tem de ser superficial, porque na superfície e mais difícil deixar marcas, e quando elas ficam é mais fácil apagá-las.
Marcas causam dor, abandono, solidão, sofrimento, desamparo. Mas estes sentimentos não combinam com o espetáculo que temos que protagonizar no dia-a-dia.
Então como ficam os RE-lacionamentos, os enlaces em nosso tempo?
Muitas vezes, não houveram  possibilidade desses laços se estabelecerem na infância, então como RElançá-los na adultez?
Desde estas considerações talvez se possa pensar  no porquê os relacionamentos duram tão pouco, se mantém na superficialidade ou até inexistem na concretude da realidade. Relacionar-se na virtualidade pode ser mais fácil. Não há  invasão de corpo e alma que o real nos impõe.
 Mas que não nos esqueçamos da dor. Ela deve ser evitada pelos valores sociais vigentes.
 Só que dela, da dor ,não se pode escapar. Amar, relacionar-se, dói porque ai já está implicada a perda, o luto pelo amor que assim como chega se vai.
Não amar, fugir, evitar ir fundo e se envolver nas relações, também dói, porque traz consigo a solidão que pode ser até acompanhada pela presença do outro.
Parece que qualquer que seja a escolha, ela se acompanha pela dor.
Dor pela incompletude, dor pela falta, dor pelo buraco vazio de sentimentos, dor pela brevidade da existência, e a dor maior,  que é a dor de poder olhar sua própria dor e com ela se relacionar.
 Parece que antes de qualquer outro relacionamento, temos que ficar íntimos com a relação que estabelecemos com nossa própria dor, inerente à condição humana do sujeito que vive na sociedade , em relação com o Outro que nos acompanha sempre e está dentro de cada de nós.
Só assim poderemos combinar relacionamento com capacidade de suportar a dor. Esse talvez seja um estágio de auto conhecimento que poucos atingem, porque para chegar até ele dói.
Já que a dor é inevitável, resta escolher a forma que cada um vai encontrar para conviver com ela. Crescendo?Relacionando na superficialidade?Ausentando-se na relação?  Olhando para a dor interna que a existência desperta? Bem, todas essas formas de enfrentamento da dor trazem desamparo, solidão, vazio e sofrimento.
 Será que se tem espaço para a RElaçãoe na atualidade? Será que podemos  RElançar e projetar relacionamentos neste tempo em  em que vivemos? A resposta talvez esteja na fluidez do tempo.

Um comentário:

  1. Por que na superfície é mais difícil deixar marcas? Talvez não seja mais difícil deixar marcas, mas as marcas da superfície são mais fáceis de apagar. Lindo texto. Leandro.

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