sábado, 2 de abril de 2011

Palavras de Filha!

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Pai só temos um. Quando este se vai o rastro de suas palavras continuam fazendo eco em nossos ouvidos à procura de algum sentido que escapou e que hoje, na ausência do discurso compartilhado, nos faz falta. As palavras do pai são matrizes significantes que nos fazem perambular pelos labirintos da vida. Mas o pai se vai e temos que continuar andando, entrando e saindo dos labirintos da existência, porque a vida não pára, nossa vida não pára, mas cessa a certeza de na incerteza poder sempre retornar a casa paterna. Símbolo de descanso para curar as feridas que o estar no mundo imprime em cada um de nós, e , depois de recuperados , seguir andando.
Hoje sinto falta, um vazio que sei nunca se preencherá habita meu interior, falta das palavras paternas, mesmo quando rudes, desconexas e contrárias a tudo que eu pensava. Elas eram música aos meus ouvidos porque representavam possibilidade de diálogo com ele. Como faltou ouvi-lo, mesmo na sutileza de sua dureza para com o mundo, para comigo, para com todos. A falta me fez compreender que ser duro também é estruturante. Sinto falta também da fortaleza da casa paterna e isto me fez tornar minha casa mais forte, lugar de descanso e de abrigo, mas sempre com marcas vivas da figura do pai, hoje bastante presente em minha vida , muito mais do que quando ele estava ao meu lado. Quando perguntam o que faltou dizer ao meu pai, digo que nada, porque só depois de sua ausência pude dimensionar o tamanho e a importância de sua presença. Não sabia que ele me faria tanta falta, e que sua falta doeria tanto. Mas com o tempo fui descobrindo que é possível dialogar com os rastros que ele deixou , e um dia quem sabe, ainda possa escrever a conversa que só poderá acontecer pela falta da companhia. 

Um comentário:

  1. Talvez o post trate mais das palavras do pai do que das palavras da filha. Trata da falta das palavras paternas, que deixa a autora do texto sem abrigo seguro. A conversa final, que só poderia acontecer pela falta da companhia, talvez nunca aconteça, porque o pai agora está mais vivo que antes, pois se tornou o pai interno, recriado pela fantasia da filha, que assim goza da companhia do pai, da forma como sempre desejou.

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